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terça-feira, dezembro 30, 2025
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Brinquedos tradicionais voltam a ganhar espaço em um Natal com menos telas

Famílias reduzem o uso de celulares e tablets entre crianças, impulsionando jogos, livros e brinquedos que estimulam criatividade, convivência e desenvolvimento

Em um mundo cada vez mais dominado por telas, um movimento silencioso começa a ganhar força dentro das casas brasileiras — e se reflete diretamente nas compras de Natal. Pais e mães têm repensado o uso excessivo de celulares, tablets e TVs pelas crianças e, como resposta, brinquedos tradicionais voltam a ocupar espaço de destaque nas listas do Papai Noel.

A mudança nasce da rotina familiar. Foi o que aconteceu com a assistente administrativa Nathália Machado, de 39 anos. Durante a pandemia, o celular era presença constante na rotina do filho Theo, hoje com 9 anos. Com o tempo, vieram sinais de desatenção, ansiedade e dificuldade de concentração. Após orientação médica, a família decidiu reduzir drasticamente o tempo de tela e resgatar brincadeiras fora do ambiente digital.

O processo não foi imediato, mas os resultados vieram. Jogos de cartas, brinquedos pequenos, livros e atividades criativas passaram a substituir o celular em momentos do dia a dia, inclusive fora de casa. “Hoje, percebemos ele mais calmo e concentrado. As brincadeiras viraram um ponto de encontro entre os irmãos”, conta Nathália.

Cresce o acesso às telas — e a preocupação dos pais

Dados recentes do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) mostram como o acesso à internet entre crianças cresceu de forma acelerada na última década. Bebês, crianças pequenas e até aquelas que ainda não sabem ler já convivem diariamente com dispositivos digitais.

Esse avanço vem acompanhado de outro fenômeno: o aumento no número de crianças que possuem celular próprio ainda na primeira infância. O cenário acendeu um alerta entre famílias, educadores e profissionais da saúde, especialmente após debates sobre os impactos cognitivos, emocionais e sociais do uso excessivo de telas.

Não por acaso, a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda zero exposição a telas para crianças de até 2 anos e uso bastante limitado, supervisionado e com conteúdo adequado até os 5 anos.

Mercado reage: menos tecnologia, mais imaginação

O reflexo dessa mudança de comportamento já aparece no comércio. Segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), o setor superou R$ 10 bilhões em faturamento em 2024, com crescimento significativo em categorias ligadas ao brincar offline.

Jogos de tabuleiro, quebra-cabeças, livros infantis, blocos de montar, bolas, patins, patinetes e brinquedos de jardim registraram altas expressivas ao longo do ano. Brinquedos que estimulam criatividade, interação social e atividades ao ar livre voltaram a ser protagonistas.

Para o varejo, o movimento representa uma inversão de tendência. Após anos tentando competir com telas por meio de brinquedos tecnológicos, a indústria agora aposta em produtos que convidam as crianças a imaginar, criar, se movimentar e interagir com outras pessoas.

Brincar como vínculo e aprendizado

Especialistas reforçam que o brincar vai além do entretenimento. Para Ana Claudia Leite, gerente de Educação do Instituto Alana, brincar sem telas fortalece vínculos afetivos e cria conexões entre gerações.

“Quando adultos e crianças brincam juntos, não estão apenas se divertindo. Estão compartilhando memórias, aprendizados e criando espaços de escuta e convivência”, explica.

Essa percepção é compartilhada por mães como a pedagoga Eloísiany Moreira, de 28 anos, que decidiu limitar o uso de telas pela filha Helena, de apenas 1 ano. “Isso muda até a nossa relação com o celular. O tempo que seria gasto rolando redes sociais vira tempo de parque, de chão, de conversa”, relata.

Uma nova lista para o Papai Noel

Com a chegada do Natal, tablets e celulares ficaram fora da lista em muitas casas. Bicicletas, instrumentos musicais de brinquedo, blocos de montar, jogos de cartas e livros aparecem como as escolhas preferidas.

“A única certeza é que vai ser alguma coisa sem telas”, resume Nathália.

Mais do que uma tendência de consumo, o resgate dos brinquedos tradicionais revela um desejo coletivo: desacelerar, reconectar famílias e devolver às crianças o direito de brincar de forma mais livre, criativa e humana.

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