Proposta de uma articulação nacional busca unir Poderes, instituições e sociedade para enfrentar a violência de gênero.
O aumento dos casos de feminicídio no Brasil reacendeu o debate sobre a necessidade de uma resposta articulada e urgente contra a violência de gênero. Diante dos números alarmantes e das mobilizações populares que tomaram as ruas no último fim de semana, representantes do governo federal anunciaram a intenção de convocar uma reunião com os Poderes da República e diversos segmentos sociais para debater uma ação unificada de enfrentamento ao problema.
A ideia central é formar um “mutirão educacional” que envolva Congresso Nacional, Judiciário, instituições religiosas, sindicatos, entidades da sociedade civil e especialistas em políticas públicas. A proposta busca tratar o combate ao feminicídio como uma pauta nacional, contínua e prioritária.
A urgência se justifica pelos dados recentes: 1.459 mulheres foram vítimas de feminicídio em 2024, o equivalente a quatro assassinatos por dia motivados por gênero. Apenas neste ano, já foram registrados mais de 1.180 feminicídios e quase 3 mil atendimentos diários pelo Ligue 180, segundo o Ministério das Mulheres. O cenário reforça o alerta de que o país enfrenta uma crise persistente de violência doméstica e familiar.
Casos recentes, como o atropelamento brutal que deixou uma mulher com as pernas amputadas em São Paulo e o incêndio criminoso que matou uma gestante e quatro crianças no Recife, evidenciam a gravidade e a recorrência do problema. Para especialistas, episódios desse tipo revelam uma cultura de violência que exige ações firmes, preventivas e educativas.
O debate nacional também dialoga com o Mapa Nacional da Violência de Gênero, que aponta que 3,7 milhões de mulheres sofreram algum tipo de agressão doméstica apenas nos últimos 12 meses. Os números reforçam que o enfrentamento da violência contra a mulher não pode ser entendido como uma responsabilidade exclusiva das vítimas, mas sim como um desafio coletivo.
Durante a 14ª Conferência Nacional de Assistência Social, realizada em Brasília, também avançou a discussão sobre a PEC 383/17, que define a aplicação mínima de 1% das receitas públicas no Sistema Único de Assistência Social (Suas). A proposta busca garantir recursos permanentes para políticas sociais, incluindo ações de proteção e acolhimento de mulheres em situação de violência. O texto já está pronto para votação no plenário da Câmara.
Enquanto o país se mobiliza, cresce a expectativa por medidas que fortaleçam a prevenção, ampliem redes de apoio e estimulem uma mudança cultural duradoura. Especialistas defendem que o combate ao feminicídio só será eficaz quando envolver educação, responsabilidade masculina, proteção institucional e políticas públicas contínuas.


