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Mounjaro, Ozempic e outros GLP-1 no pós-parto: estudo mostra aumento no uso, mas segurança ainda gera dúvidas

Pesquisa feita na Dinamarca aponta salto nas prescrições de medicamentos para emagrecer entre novas mães, enquanto especialistas pedem cautela por falta de evidências sólidas sobre uso no pós-parto e na amamentação

Um novo estudo realizado na Dinamarca acendeu o alerta sobre o uso de medicamentos para emagrecimento, como Mounjaro, Ozempic, Wegovy e outros remédios à base de GLP-1, entre mulheres no período pós-parto. A análise considerou 382.277 gestações, entre o início de 2018 e junho de 2024, e revelou um aumento expressivo nas prescrições dessas medicações logo após o nascimento dos bebês.

Em 2018, o uso de medicamentos GLP-1 nos primeiros seis meses após o parto era raro: havia menos de cinco prescrições para cada 10 mil novas mães. Em meados de 2022, esse número já tinha subido para 34 prescrições por 10 mil mulheres. Em meados de 2024, o salto foi ainda maior: 173 prescrições para cada 10 mil novas mães, o que corresponde a quase 2% das mulheres no pós-parto utilizando esse tipo de medicamento logo após dar à luz.

A maioria das mulheres que recebeu prescrição tinha mais de 30 anos, dois terços já eram mães de mais de um filho e a maior parte estava acima do peso, mas sem diagnóstico de diabetes e sem histórico prévio de uso de GLP-1.

Para a equipe de pesquisadores, esse cenário chama a atenção porque o período pós-parto é, por natureza, uma fase de perda de peso gradual, somada a intensas alterações hormonais e a um processo de recuperação física e emocional complexo. Ver um aumento tão rápido no uso de remédios para emagrecer justamente nesse momento foi considerado inesperado.

O que são os medicamentos GLP-1?

Os chamados agonistas de GLP-1, como a semaglutida (presente em remédios conhecidos comercialmente como Ozempic e Wegovy), foram desenvolvidos inicialmente para tratar diabetes tipo 2. Com o tempo, ganharam espaço também no tratamento da obesidade, devido à capacidade de:

  • reduzir o apetite;
  • aumentar a sensação de saciedade;
  • influenciar hormônios relacionados ao metabolismo.

O resultado foi uma grande exposição nas redes sociais, relatos de emagrecimento rápido e aumento na procura, inclusive entre mulheres que acabaram de passar por uma gestação.

No entanto, quando se trata de pós-parto e amamentação, os especialistas reforçam que as decisões precisam ser mais cuidadosas, porque ainda não há respostas completas sobre todos os efeitos desses medicamentos para mães e bebês.

O que se sabe sobre o uso de GLP-1 na amamentação?

Até o momento, os dados disponíveis sobre o uso de medicamentos à base de GLP-1 durante a amamentação ainda são limitados. Estudos iniciais sugerem que:

  • a semaglutida não foi detectada em quantidades mensuráveis no leite materno em alguns pequenos grupos analisados;
  • não foram observados efeitos adversos imediatos nos bebês amamentados nessas situações;
  • porém, faltam estudos de longo prazo para avaliar possíveis impactos no metabolismo, no crescimento e no desenvolvimento de órgãos como o pâncreas.

Por causa dessa falta de dados mais robustos, centros que produzem informações sobre segurança de medicamentos na gravidez e amamentação adotam uma postura de prudência. Há recomendações para que, sempre que possível, as mulheres evitem o uso de remédios para emagrecer à base de GLP-1 enquanto estiverem amamentando.

Além disso, também é sugerido que esses medicamentos não sejam utilizados durante a gestação e que o uso seja interrompido com antecedência em casos de gravidez planejada, justamente para reduzir riscos desconhecidos.

Riscos além do leite materno

As dúvidas não se limitam ao que pode ser transmitido pelo leite. Especialistas também chamam a atenção para outros pontos importantes no pós-parto:

  • Supressão do apetite: como esses medicamentos reduzem a fome, existe o risco de a mãe se alimentar menos em um período em que o corpo precisa de energia extra para se recuperar e, muitas vezes, produzir leite;
  • Hidratação: efeitos adversos como náuseas e vômitos podem levar à desidratação, o que interfere na amamentação e na saúde geral da mulher;
  • Recuperação do organismo: o corpo está em plena fase de reorganização hormonal e cicatrização. A forma como os GLP-1 interagem com esse processo ainda não é totalmente conhecida;
  • Composição do leite materno: não há dados suficientes sobre possíveis mudanças na composição de gorduras, proteínas e outros nutrientes do leite, o que pode ser relevante para o desenvolvimento do bebê.

Por isso, mesmo em um contexto de alta procura por soluções rápidas de emagrecimento, pesquisadores reforçam que o uso de medicamentos no pós-parto deve ser avaliado com muito cuidado.

Pressão estética x saúde no pós-parto

O aumento na prescrição de GLP-1 depois do parto também levanta um debate mais amplo: como a sociedade enxerga o corpo da mulher no pós-parto?

Entre noites mal dormidas, adaptações na rotina e desafios emocionais, muitas mães convivem com:

  • comentários sobre “recuperar o corpo de antes”;
  • comparações com influenciadoras e celebridades;
  • cobrança para “emagrecer rápido”;
  • imagens irreais nas redes sociais.

Nesse cenário, medicamentos para emagrecer podem parecer uma solução tentadora. Mas especialistas alertam que o corpo pós-parto não está “estragado” nem precisa ser consertado às pressas.

Uma parte da perda de peso acontece naturalmente nos meses seguintes ao nascimento do bebê, e a prioridade, segundo profissionais de saúde, deve ser a segurança da mãe e da criança, e não apenas o número mostrado na balança.

Quando há diagnóstico de obesidade ou outras condições que exigem tratamento, a avaliação precisa ser individualizada, considerando:

  • o histórico de saúde da mulher;
  • o tipo de parto;
  • a presença ou não de amamentação;
  • o estado emocional;
  • a rede de apoio disponível.

Afinal, é seguro usar Ozempic, Mounjaro e outros GLP-1 no pós-parto?

Com o que se sabe até agora, a conclusão é que a ciência ainda não tem respostas completas sobre a segurança do uso de GLP-1 no pós-parto, principalmente durante a amamentação.

Alguns pontos de consenso entre especialistas:

  • os dados disponíveis ainda são insuficientes para garantir segurança total para mães e bebês;
  • entidades e centros de pesquisa recomendam cautela e, quando possível, evitar o uso na fase de amamentação;
  • grandes sociedades médicas ainda não têm diretrizes específicas consolidadas para o uso de medicamentos para emagrecer no pós-parto, justamente pela novidade das medicações e pela falta de estudos de longo prazo;
  • qualquer decisão deve ser tomada em conjunto com profissionais de saúde, e não baseada apenas em tendências, modas ou pressão estética.

O que as mulheres podem fazer na prática?

Para as mulheres que estão no pós-parto e se sentem incomodadas com o próprio corpo, alguns caminhos podem ajudar:

  • Buscar orientação com médicos e médicas de confiança, explicando a rotina, o histórico de saúde e se há amamentação;
  • Avaliar alternativas como acompanhamento nutricional, atividade física adaptada ao momento, apoio psicológico e acompanhamento multiprofissional;
  • Questionar sempre sobre riscos, benefícios e o que ainda não se sabe sobre os medicamentos propostos;
  • Lembrar que a recuperação é um processo, e que o corpo levou meses para gestar um bebê — é natural que leve tempo para se reorganizar.

O estudo realizado na Dinamarca mostra uma tendência que merece atenção: o uso crescente de medicamentos para perda de peso em um momento delicado, em que a prioridade é a saúde integral da mãe e do bebê.

Enquanto a ciência segue buscando respostas mais claras, o recado que ganha força é: cautela, acompanhamento profissional e respeito ao tempo do corpo são fundamentais antes de decidir pelo uso de qualquer medicamento para emagrecer no pós-parto.

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