Produção recorde de fontes limpas em agosto reforça a posição do país como líder global na transição energética
Em agosto de 2025, o Brasil atingiu um marco histórico: pela primeira vez, as fontes de energia solar e eólica geraram mais de um terço da eletricidade do país. Juntas, elas representaram 34% da matriz elétrica, segundo dados oficiais analisados pelo think tank global de energia Ember.
Foram 19 terawatts-hora (TWh) produzidos, superando o recorde mensal anterior de 18,6 TWh em setembro de 2024. O feito ocorreu em um contexto de redução da produção hidrelétrica, que registrou seu menor nível em quatro anos (27 TWh). Ainda assim, as hidrelétricas continuam liderando a geração, com 48% de participação, embora esse tenha sido apenas o segundo mês em que forneceram menos da metade da energia consumida no país.
Crescimento acelerado das renováveis
Nos últimos cinco anos, o Brasil mais que dobrou a participação de fontes eólicas e solares na matriz elétrica. Em 2019, juntas respondiam por menos de 10% da geração nacional. Em 2024, esse número saltou para 24%, chegando agora a 34% em um único mês.
A energia solar teve crescimento especialmente rápido, passando de 1,1% em 2019 para 9,6% em 2024. Já a energia eólica praticamente dobrou sua presença, de 8,8% em 2019 para 15% em 2024.
Esse avanço consolida o Brasil como referência global em energia limpa, reduzindo emissões de gases de efeito estufa e fortalecendo a competitividade de setores industriais que demandam eletricidade com menor impacto ambiental.
Complemento às hidrelétricas e desafios futuros
A análise da Ember aponta que o papel das hidrelétricas mudou na última década. Hoje, elas funcionam como um sistema de equilíbrio, ajustando sua produção conforme a variabilidade das fontes solar e eólica. Essa estratégia permite preservar água em períodos de seca e garante maior resiliência energética ao país.

Ainda assim, a geração fóssil continua tendo participação relevante: em agosto, representou 14% da matriz (7,8 TWh), principalmente por meio de termelétricas a carvão e gás natural. Em momentos de estiagem, essa participação tende a aumentar – como em agosto de 2021, quando chegou a 26%.
Um dos próximos passos do Brasil será fortalecer a produção de hidrogênio verde, em estágio inicial de implantação. Essa tecnologia, obtida sem combustíveis fósseis, pode ampliar o portfólio de alternativas sustentáveis e posicionar o país ainda mais como potência energética global.
Obstáculos à expansão
Apesar do cenário positivo, a expansão da energia solar desacelerou em 2025. No primeiro semestre, foram instalados 7,1 gigawatts (GW), abaixo dos 9,9 GW do mesmo período de 2024. Entre os fatores que explicam a queda estão:
- congestionamentos na rede de distribuição,
- incertezas regulatórias,
- e redução de incentivos governamentais.
Segundo Raul Miranda, diretor do programa global da Ember no Rio de Janeiro, “a diversificação da matriz elétrica tornou o Brasil mais resiliente às secas, ao mesmo tempo em que atendeu à demanda crescente de energia de uma economia em expansão, sem aprofundar a dependência de combustíveis fósseis caros”.
O relatório reforça que a continuidade da transição energética será fundamental para evitar a necessidade de importações de carvão e gás nos próximos anos.