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quarta-feira, dezembro 31, 2025
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InícioSaúde e Bem-EstarAposentadoria e cérebro: pausa necessária ou risco à saúde mental?

Aposentadoria e cérebro: pausa necessária ou risco à saúde mental?

Estudos apontam queda na memória e aumento da depressão após deixar o trabalho, mas planejamento e novas rotinas podem proteger a mente.

Para milhões de pessoas que se aposentam todos os anos, deixar o trabalho pode parecer uma pausa merecida. Mas essa mudança também pode desencadear transformações significativas na saúde do cérebro, incluindo maior risco de declínio cognitivo e depressão.

Antes da aposentadoria, há uma rotina clara: acordar cedo, socializar com colegas e lidar com os desafios mentais do trabalho, explica Ross Andel, professor da Universidade Estadual do Arizona, que pesquisa envelhecimento cognitivo. “De repente, após 50 anos, essa rotina desaparece”, afirma. Segundo ele, existe a ideia de que corpo e cérebro “se adaptam quando não são mais necessários”. É nesse momento que a deterioração pode se manifestar como resposta natural à inatividade.

Por outro lado, a aposentadoria também pode ser uma oportunidade de fortalecer a saúde cognitiva e emocional, com mais tempo para interações sociais e hobbies. Mesmo quem já percebe sinais iniciais de declínio pode recuperar funções cerebrais, afirma Giacomo Pasini, professor da Universidade Ca’ Foscari de Veneza.

Um declínio na cognição e no humor

Uma análise com mais de 8 mil aposentados na Europa mostrou que a memória verbal — a capacidade de lembrar palavras após certo intervalo — tende a cair mais rápido depois da aposentadoria. Outro estudo realizado na Inglaterra confirmou queda acentuada nessa habilidade, embora o raciocínio abstrato não tenha sido afetado.

“Há evidências de que a aposentadoria pode prejudicar a cognição, porque o cérebro deixa de ser desafiado”, diz Guglielmo Weber, professor de econometria da Universidade de Pádua.

Outras pesquisas também relacionam a aposentadoria ao aumento da depressão. A transição repentina de uma vida profissional intensa para uma rotina sem engajamento pode amplificar sentimentos de inutilidade, tristeza e até provocar sintomas graves.

A natureza do trabalho e a forma como ele é encarado influenciam o risco de declínio. Segundo os pesquisadores, profissionais que ocuparam cargos de alto escalão podem apresentar piora cognitiva mais rápida, pois sua identidade estava mais ligada à carreira. Já pessoas que se aposentam antes da idade padrão apresentaram declínio menor, possivelmente pela transição mais gradual.

O valor de ter um plano

Apesar dos riscos, especialistas reforçam que a aposentadoria pode representar crescimento, não declínio — desde que haja planejamento.

“Não espere se aposentar para pensar na aposentadoria. O plano não pode ser: ‘Trabalhei tanto que agora vou tirar férias longas e depois resolvo o resto’”, orienta Andel.

Alison Moore, chefe da divisão de geriatria da Universidade da Califórnia, destaca que o ideal é criar rotinas mental e fisicamente estimulantes alguns anos antes de parar de trabalhar. O objetivo, afirma, é “mudar de um tipo de vida cotidiana para outro” de forma natural.

Encontre um novo propósito

Ter um novo propósito é fundamental. Pesquisas mostram que pessoas com senso de propósito têm menor risco de declínio cognitivo. O trabalho voluntário é um exemplo: além de manter a mente ativa, reduz o estresse e promove bem-estar.

Mantenha-se socialmente ativo

Outro ponto essencial é substituir a socialização do ambiente de trabalho por encontros presenciais ou virtuais regulares. “Temos evidências sólidas de que, primeiro, os contatos sociais diminuem — e depois vem o declínio cognitivo”, alerta David Richter, professor da Freie Universität Berlin.

Atividades como clubes de leitura, grupos de estudo e rodas de conversa são mais benéficas que interações passivas, como assistir TV.

Experimente coisas novas

Criatividade e movimento físico também são aliados do cérebro. Escrever, aprender algo novo, testar receitas ou praticar esportes reforçam a saúde mental e emocional.

“Há fortes evidências de que encontrar propósito gera grande satisfação pessoal”, conclui Jonathan Schooler, professor de psicologia da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara.

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