País reutiliza quase todas as latas produzidas e devolve o material às prateleiras em apenas 60 dias, mas catadores pedem mais valorização pelo serviço prestado.
Em dia de jogo no Maracanã, no Rio de Janeiro, não é raro ver torcedores consumindo bebidas nas famosas latinhas de alumínio antes de entrarem no estádio. O que poucos percebem é que, muitas vezes antes mesmo de irem parar nas lixeiras, essas embalagens já estão sendo recolhidas por catadores — protagonistas silenciosos de um sistema que mantém o Brasil no topo da reciclagem mundial.
Segundo dados divulgados nesta quinta-feira (14) pela associação Recicla Latas, o país reciclou 97,3% das latinhas comercializadas em 2024. Isso significa que, das 34,8 bilhões de unidades vendidas, 33,9 bilhões voltaram para a cadeia produtiva. Em apenas 60 dias, elas retornam às prateleiras, prontas para novo uso.
O Brasil mantém há 16 anos uma taxa de reaproveitamento acima de 96%. Em 2022, chegou a 100,1% — índice que indica que foram recicladas mais latas do que as vendidas no período, por causa de estoques antigos e importações.
De acordo com o secretário-executivo da Recicla Latas, Renato Paquet, esse desempenho se deve a um sistema de logística reversa robusto, previsto na Lei 12.305/2010, que obriga fabricantes a garantir o retorno e reaproveitamento de resíduos. “Mesmo em anos desafiadores, conseguimos manter índices elevados, o que demonstra a força da articulação entre os diversos elos da cadeia”, afirmou.
A presidente da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), Janaina Donas, destaca que a reciclagem de latas vai além do impacto ambiental: “É uma estratégia de competitividade, segurança de suprimento e um caminho essencial para a descarbonização do setor”.
Apesar dos números expressivos, o Movimento Nacional dos Catadores lembra que há cerca de 800 mil trabalhadores nessa atividade no país, muitos em situação de vulnerabilidade. O presidente da Associação Nacional dos Catadores (Ancat), Roberto Rocha, defende que, além de serem pagos pelo material entregue às recicladoras, eles também recebam pelo serviço de coleta — preferencialmente com apoio de prefeituras e empresas.
“A qualidade de vida e o serviço dos catadores só vão melhorar quando houver pagamento pelo serviço prestado. Hoje ninguém paga para a recuperação ou coleta dessas latinhas”, reforça Rocha.