Residência artística em Salvador propõe reencontro cultural entre África e Brasil e dá voz às mulheres negras na arte contemporânea
“Imagina se a gente tivesse decidido não dançar?”
A provocação da artista Ana Pi resume o espírito do espetáculo Atomic Joy, que integra a Temporada França-Brasil 2025 e convida o público a refletir sobre as contribuições negras à cultura global, mesmo diante de tantas ausências impostas pela história colonial.
A coreógrafa mineira radicada na França é uma das protagonistas de uma intensa programação que resgata, denuncia e, sobretudo, celebra a ancestralidade negra como força criadora. Com um trabalho que une dança urbana, espiritualidade e sensibilidade política, Ana Pi apresenta no Brasil sua nova obra, onde alegria e resistência se fundem em movimento.

“Quem faz maldade por aí está muito alegre também”, afirma a artista, desafiando a ideia simplista de que a alegria é sempre leve. Para Ana, dançar é ato de sobrevivência e afirmação. E o corpo negro, muitas vezes negado ou oprimido, torna-se linguagem poderosa e ancestral.
Outro destaque é a artista francesa Beya Gille Gacha, filha de camaronense e francês. Após uma residência artística na Bahia, Gacha descobriu, emocionada, a conexão direta entre sua história familiar e o Brasil. Ao visitar o Porto de Bimbia, ponto de partida de africanos escravizados para as Américas, ela se deparou com o nome “Brasil” entre os destinos. “Eu caí sentada”, disse, ao entender sua ligação profunda com o país.
Essa reconexão dá origem ao projeto Oceano Negro, que promove uma nova residência artística em Salvador, reunindo mulheres negras de diferentes países para um mergulho em memórias, espiritualidades e formas de resistência cultural. Como explica a artista Fabiana Ex-Souza, também integrante da iniciativa: “O Brasil conservou muito da África. E essa troca nos transforma.”
O Oceano Negro não é apenas um lugar de criação artística — é um território simbólico de cura, reencontro e reconstrução. Ao dar visibilidade a essas trajetórias, a Temporada França-Brasil fortalece pontes entre África, Europa e América Latina, questionando os efeitos da colonização e exaltando o protagonismo das mulheres negras nas artes.
por GT Notícias – Goiás Tocantins Notícias