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segunda-feira, dezembro 1, 2025
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Corrida com tora reafirma tradição Xavante e se torna símbolo dos Jogos Interculturais de Goiás

Ritual tradicional do povo Xavante ganhou destaque na edição 2025 dos Jogos Interculturais, em Goiânia, ao integrar esporte, cultura e formação cidadã na rede pública estadual.

A edição de 2025 dos Jogos Interculturais de Goiás transformou o campo esportivo em um grande espaço de celebração da diversidade. Realizado esta semana no Clube do Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação das Instituições Federais de Ensino Superior (SINT-IFES), em Goiânia, o evento reuniu 522 estudantes atletas de escolas do campo, quilombolas e indígenas da rede pública estadual.

Representantes dos povos Xavante, Tapuia do Carretão e Iny Karajá marcaram presença nas disputas, reforçando que o esporte também é um caminho para manter viva a memória e a força das identidades que compõem o estado. A iniciativa é do Governo de Goiás, por meio da Secretaria de Estado da Educação (Seduc), e chega ao terceiro ano consecutivo como uma ação estruturante de valorização cultural dentro da educação pública.

Entre as modalidades, a corrida com tora se destacou como o rito de maior força simbólica do evento, reafirmando a identidade do povo Xavante. A imagem dos corredores atravessando o campo com toras de buriti nos ombros sintetizou o propósito dos Jogos Interculturais: integrar tradição, cultura e formação cidadã em um mesmo espaço de aprendizagem.

Além da corrida com tora, a programação incluiu cabo de guerra, arco e flecha, luta corporal, capoeira e futebol – modalidades que aproximam práticas tradicionais, conhecimentos ancestrais e habilidades físicas, conectando o cotidiano escolar a diferentes formas de viver e existir no território goiano. O objetivo é fortalecer a diversidade étnica e cultural na educação pública e ampliar o sentimento de pertencimento entre os estudantes.

Organização social e rito de formação

Representante do povo Xavante, Caetano Tserenhhi’m Moritu, técnico do CEEJA de Aragarças, explica que a corrida com tora é muito mais que uma disputa esportiva. Trata-se de um elemento central da organização social e dos rituais ligados aos grupos etários na aldeia.

“A corrida com tora de buriti acontece entre grupos etários e quem leva a tora primeiro ao centro da aldeia é o vencedor. É mais que uma competição, é tradição, disciplina, união e continuidade para os mais jovens”, afirma Caetano.

O ritual acontece em um horário específico, geralmente no início da tarde, escolhido a partir de referências tradicionais relacionadas à energia corporal e à preparação espiritual. Antes da largada, os corredores passam por um momento de concentração que inclui pintura corporal, com grafismos distintos entre as equipes, além de práticas espirituais próprias do povo Xavante.

Ao final, os participantes formam um círculo para encerrar o rito, repetindo, no campo de Goiânia, a dinâmica tradicional da aldeia. Assim, os Jogos Interculturais deixam de ser apenas uma competição entre escolas e se tornam um encontro entre tempos, saberes e gerações.

Tora que vem da aldeia, decisão que vem da comunidade

Para a Seduc, a escolha das modalidades dos Jogos Interculturais é parte de um processo mais amplo de integração de saberes ancestrais ao cotidiano da rede estadual. O superintendente de Atenção Especializada, Rupert Nickerson, destaca que esse é um dos papéis centrais do projeto.

“Promover modalidades tradicionais é uma forma de inserir a cultura indígena, quilombola e a educação do campo em um espaço de integração real”, explica Rupert.

Segundo ele, não se trata apenas de assistir a apresentações culturais, mas de vivenciar práticas que nascem dentro das comunidades. “Nos jogos, as três culturas convivem, se reconhecem e aprendem umas com as outras, reforçando uma formação que envolve conhecimento e respeito à diversidade”, completa.

Rupert ressalta ainda que todo o processo é conduzido em diálogo com as lideranças indígenas e quilombolas. No caso da corrida com tora, tradição do povo Xavante, as toras de buriti são retiradas e preparadas nas aldeias segundo o ritual próprio, com cantos e práticas específicas.

Nesta edição, a retirada ocorreu na Aldeia do Carretão, autorizada pela liderança Tapuia e conduzida pelos Xavante. O percurso realizado em Goiânia também foi definido e validado por eles, garantindo que a tradição fosse respeitada em cada detalhe – da tora aos passos de quem corre.

Esporte, cultura e direito à representatividade

A superintendente de Desporto Educacional da Seduc, Elaine Machado, reforça que os Jogos Interculturais têm o esporte como porta de entrada, mas vão muito além das medalhas.

“O encontro entre esporte e cultura é o cerne da proposta. A Secretaria organiza toda a logística de transporte, alimentação e hospedagem, garantindo que escolas do campo, quilombolas e indígenas possam participar em condições de igualdade”, explica.

Elaine lembra que, quando um estudante se vê representado na quadra, no campo ou nas arquibancadas, ele também se reconhece como sujeito de direitos dentro da escola pública.

“A gestão da secretária Fátima Gavioli e do governador Ronaldo Caiado tem ampliado iniciativas que inserem práticas culturais e rituais de diferentes povos dentro da rede estadual, permitindo que os estudantes se vejam representados e respeitados em suas histórias e modos de vida”, destaca.

Ao reafirmar a corrida com tora como parte essencial dos Jogos Interculturais, o evento de 2025 reforça uma mensagem que vai além da competição: a educação pública de Goiás se constrói, cada vez mais, com os povos que fazem o estado existir – no campo, nas comunidades quilombolas, nas aldeias e nas cidades.

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