Estudos apontam alta taxa de reganho de peso após interrupção de medicamentos como Ozempic, Wegovy e Mounjaro
Medicamentos conhecidos popularmente como canetas emagrecedoras — entre eles Ozempic, Wegovy e Mounjaro — mudaram o cenário do tratamento da obesidade no mundo. Baseados em análogos do hormônio GLP-1, essas drogas atuam diretamente no controle do apetite, na saciedade prolongada e na redução do chamado food noise (o impulso constante por comida).
No entanto, um ponto começa a ganhar destaque entre médicos, pesquisadores e órgãos reguladores: o que acontece quando o tratamento é interrompido?
O que dizem os estudos clínicos
Dados de estudos acompanhados por sociedades médicas internacionais indicam que entre 60% e 80% do peso perdido pode ser recuperado entre um e três anos após a interrupção do uso, caso não haja acompanhamento nutricional, psicológico e mudanças estruturais no estilo de vida.
Especialistas explicam que isso ocorre porque os medicamentos não “curam” a obesidade, mas atuam enquanto estão sendo usados. Ao serem suspensos, o organismo tende a retomar padrões hormonais anteriores, incluindo o aumento do apetite e a redução da sensação de saciedade.
A obesidade, segundo consensos médicos, não é causada pela falta de GLP-1, mas por um conjunto complexo de fatores metabólicos, ambientais, emocionais e sociais.
Retorno rápido da fome e risco de efeito rebote
Relatórios clínicos apontam que, em muitos casos, o aumento do apetite pode ocorrer já nos primeiros dias após a interrupção, especialmente quando o tratamento é suspenso de forma abrupta e na dose máxima.
Por isso, diretrizes internacionais recomendam que o fim do uso seja planejado, com redução gradual da dose e estratégias paralelas de manutenção do peso, como reeducação alimentar, prática regular de atividade física e suporte psicológico.
Posicionamento de órgãos reguladores
No Reino Unido, o NICE (Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Cuidados) passou a recomendar que pacientes que interrompem o uso de medicamentos à base de GLP-1 recebam pelo menos um ano de acompanhamento contínuo, com planos personalizados para evitar o reganho de peso e preservar a saúde metabólica.
A recomendação reforça que o medicamento deve ser parte de um tratamento, não a única solução.
Uso prolongado ainda levanta questionamentos
Apesar dos benefícios comprovados na perda de peso e na redução de riscos associados à obesidade, os efeitos do uso prolongado dessas medicações ainda estão em fase de monitoramento. Náuseas, distúrbios gastrointestinais, queda de cabelo associada à perda rápida de peso e alterações metabólicas são efeitos relatados e acompanhados por autoridades de saúde.
Fabricantes como Novo Nordisk e Eli Lilly afirmam que a segurança dos pacientes é prioridade e que os medicamentos seguem sendo monitorados em parceria com órgãos reguladores e profissionais prescritores.
Custo e acesso também influenciam decisões
No Brasil, o tratamento contínuo representa um custo elevado. Uma caneta de Mounjaro, na dose inicial, pode ultrapassar R$ 1.400, o que torna o uso prolongado inviável para parte da população e reforça a importância de estratégias sustentáveis para o período pós-medicação.
Especialistas alertam: estratégia de saída é essencial
Médicos especializados em saúde metabólica reforçam que interromper o uso sem planejamento pode gerar frustração, reganho rápido de peso e impacto emocional significativo.
O consenso é claro: sem mudanças no ambiente, nos hábitos e no suporte ao paciente, a tendência é que o peso volte, independentemente do medicamento utilizado.
Mais do que emagrecer, é sobre manter saúde
O debate em torno das canetas emagrecedoras avança para além da perda de peso. Especialistas defendem que políticas públicas, ambientes mais saudáveis e acesso a acompanhamento contínuo são fundamentais para evitar que o tratamento se transforme em um ciclo de perda e ganho de peso.
A pergunta que permanece não é apenas se é possível parar, mas como parar de forma segura, sustentável e saudável.


