Pesquisa nacional aponta falta de acolhimento, bullying naturalizado e professores esgotados; especialistas defendem urgência em políticas de saúde mental nas escolas
Uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira revelou um dado alarmante sobre a educação básica no Brasil: 57% dos estudantes não acreditam que a escola ou os professores se preocupem com seu bem-estar. Apenas 22% afirmaram se sentir plenamente reconhecidos e acolhidos no ambiente escolar.
O levantamento, conduzido pelo Instituto Educbank de Educação e Cultura em parceria com o Great Place to Study (GPTS), coletou cerca de 18 mil respostas entre alunos, familiares e professores de quase 200 escolas em todo o país, incluindo capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador e Fortaleza. Os dados mostram que a percepção negativa cresce justamente nos anos de maior vulnerabilidade emocional, especialmente no ensino fundamental II e no ensino médio.
Segundo os autores, o ambiente escolar tem deixado de ser visto como espaço de proteção e pertencimento, tornando-se associado a cansaço, ansiedade, isolamento e sobrecarga emocional. O estudo também aponta a naturalização do bullying, a exclusão silenciosa de estudantes e a fragilidade no diálogo entre escola e famílias.
📉 Queda de vínculos emocionais
O índice de saúde psicológica caiu de 80 pontos nos primeiros anos do ensino fundamental para apenas 64 pontos no ensino médio. A fase mais crítica ocorre nos anos finais do fundamental, quando o índice de convivência despenca para 46 pontos.
João Hoppner, CEO do GPTS, afirma que a “cultura do silêncio” em relação à violência escolar é um dos maiores entraves:
“Muitas escolas preferem não dimensionar o problema para não ter que agir. Mas o silêncio se torna insustentável e reflete em casos de violência, autoagressão e evasão”, destacou.
Ele citou ainda a morte da estudante Alícia Valentina, em Pernambuco, como um caso extremo de negligência sobre situações de violência.
👩🏫 Professores esgotados
O estudo também revelou um paradoxo da docência: 75% dos professores disseram se sentir constantemente desgastados, mas, ao mesmo tempo, 91% afirmaram que a profissão é fonte de felicidade. Os autores defendem que essa ambivalência reforça a necessidade de políticas institucionais de apoio aos educadores.
Para Rudney Soares, diretor pedagógico do Colégio Miguel de Cervantes, em São Paulo, a saúde mental deve ser vista como um “pilar central da vida escolar”:
“É essencial estruturar equipes multidisciplinares, com psicólogos e professores-tutores, além de espaços permanentes de escuta aberta”, afirmou.
Já Maria Aparecida Schleier, do Colégio Sidarta (SP), reforça a importância de reduzir o tempo excessivo de telas e estimular a convivência real:
“O excesso de redes sociais pressiona os jovens com parâmetros irreais, levando a casos de depressão e isolamento. Precisamos trazer os alunos de volta ao convívio saudável”, disse.
🔎 Principais achados da pesquisa
- 57% dos estudantes não acreditam que a escola se preocupe com seu bem-estar;
- 64% relatam sentir cansaço e sobrecarga prejudicando a saúde mental;
- 24% não se sentem pertencentes a nenhum grupo;
- 75% dos professores se dizem constantemente desgastados;
- 91% dos educadores afirmam que a profissão gera felicidade, apesar da sobrecarga.
Os autores defendem mudanças estruturais, como a inclusão da educação socioemocional no currículo, a valorização de vínculos de pertencimento e a criação de políticas de cuidado docente.


