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terça-feira, setembro 30, 2025
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Amnésia infantil: por que não lembramos dos primeiros anos de vida?

Especialistas apontam que a ausência de lembranças da infância envolve fatores como desenvolvimento do cérebro, linguagem e até a forma como construímos nossa identidade.

O dia do nascimento, os primeiros passos, a descoberta das palavras. Todos esses momentos marcam o início da vida, mas permanecem fora do alcance da memória consciente. Esse fenômeno, conhecido como amnésia infantil, intriga neurologistas e psicólogos há décadas e levanta uma pergunta central: será que as memórias da primeira infância nunca foram criadas ou apenas não conseguimos acessá-las depois?

O papel do hipocampo

Pesquisas sugerem que a explicação pode estar ligada ao hipocampo, estrutura cerebral responsável pela formação de novas memórias. Durante a infância, ele cresce rapidamente — chega a dobrar de tamanho — e, por isso, talvez não fosse capaz de armazenar lembranças de forma duradoura nos primeiros anos de vida.

Contudo, estudos recentes desafiam essa visão. O professor Nick Turk-Browne, da Universidade de Yale (EUA), monitorou a atividade cerebral de bebês entre quatro meses e dois anos e descobriu que, quanto mais ativo o hipocampo estava diante de novos estímulos, maior era a chance de reconhecimento posterior. Isso indica que os bebês podem, sim, formar memórias desde cedo — mesmo que não as conservem para a vida adulta.

Onde ficam essas lembranças?

Uma questão fascinante é o destino dessas memórias iniciais. Experimentos com animais mostraram que recordações aparentemente esquecidas podem ser “reativadas” artificialmente, sugerindo que as lembranças infantis não desaparecem por completo, mas ficam inativas ou inacessíveis.

A neuropsicóloga Catherine Loveday, da Universidade de Westminster (Reino Unido), acrescenta outro ponto: memórias da infância podem até ser formadas, mas não são consolidadas ao longo do tempo. Crianças pequenas relatam experiências cotidianas, como brincadeiras na creche, mas não conseguem recordar esses mesmos fatos anos depois.

Reconstrução e identidade

Outro desafio é distinguir memórias reais de reconstruções mentais. Segundo Loveday, lembranças muito precoces — como estar no berço ou sentir o colo da mãe — podem, na verdade, ser fruto de histórias contadas por familiares e reelaboradas pelo cérebro como se fossem experiências vividas.

“O que chamamos de memória é, muitas vezes, uma reconstrução”, explica. Isso mostra que a amnésia infantil não é apenas uma questão biológica, mas também psicológica: envolve como formamos nossa consciência e construímos a identidade.

Para Turk-Browne, o mistério toca diretamente no que nos torna humanos:

“A ideia de que temos esse ponto cego nos primeiros anos de vida, no qual não nos lembramos das coisas, desafia profundamente a forma como pensamos sobre nós mesmos.”

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