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quarta-feira, dezembro 31, 2025
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Sífilis segue em ritmo acelerado de crescimento no Brasil e preocupa especialistas

Avanço é mais grave entre mulheres jovens e gestantes, com aumento da transmissão para bebês

O Brasil segue enfrentando um crescimento acelerado dos casos de sífilis, uma infecção sexualmente transmissível (IST) que, apesar de ter diagnóstico simples e tratamento de baixo custo, continua avançando de forma preocupante. Dados do Ministério da Saúde, divulgados em outubro deste ano, mostram que a doença acompanha uma tendência mundial de alta e atinge de maneira mais grave mulheres jovens e gestantes.

Entre 2005 e junho de 2025, o país registrou 810.246 casos de sífilis em gestantes. A maior concentração está na Região Sudeste, com 45,7% dos registros, seguida pelo Nordeste (21,1%), Sul (14,4%), Norte (10,2%) e Centro-Oeste (8,6%).

Em 2024, a taxa nacional de detecção alcançou 35,4 casos por mil nascidos vivos, evidenciando o avanço da transmissão vertical — quando a infecção passa da mãe para o bebê durante a gestação.

Segundo a ginecologista Helaine Maria Besteti Pires Mayer Milanez, membro da Comissão Nacional Especializada em Doenças Infectocontagiosas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), o país convive com esse desafio há décadas.

“Sempre tivemos problema com a sífilis no Brasil. Ainda não conseguimos encarar a redução desses números de forma consistente há muitos anos”, afirma a médica.

Doença evitável, mas ainda fora de controle

Apesar de ser mais fácil de diagnosticar, rastrear e tratar do que outras ISTs, como o HIV, a sífilis ainda não tem sido enfrentada de maneira eficaz no país. Para a especialista, o problema atinge principalmente a população jovem em idade reprodutiva, o que contribui diretamente para o aumento dos casos de sífilis congênita.

“Temos um problema sério tanto entre adultos jovens quanto entre gestantes. Isso reflete diretamente no aumento da transmissão vertical”, explica.

Subdiagnóstico e erros na interpretação dos exames

Um dos principais entraves, segundo Helaine, é o subdiagnóstico da infecção, inclusive dentro dos serviços de saúde. O exame mais utilizado no Brasil é o VDRL, um teste não treponêmico que identifica a infecção ativa e permite acompanhar a resposta ao tratamento.

Além dele, há os testes treponêmicos, que permanecem positivos por toda a vida. O erro mais comum, segundo a médica, ocorre quando profissionais interpretam um teste treponêmico positivo com VDRL negativo como “infecção antiga curada”, sem necessidade de tratamento.

“Esse é um grande erro. Muitas gestantes apresentam VDRL com títulos baixos ou até negativos, mas continuam infectadas, mantendo o ciclo de transmissão para o parceiro e para o feto”, alerta.

Outro fator crítico é o não tratamento do parceiro sexual, o que favorece a reinfecção da gestante mesmo após o início do tratamento.

Sífilis congênita: um alerta sobre a qualidade do pré-natal

Mais de 80% das gestantes infectadas não apresentam sintomas, pois a doença permanece na forma latente. Isso faz com que a interpretação correta dos exames durante o pré-natal seja decisiva.

“A ocorrência de sífilis congênita é um dos melhores indicadores da qualidade da atenção pré-natal”, destaca Helaine.

A Febrasgo promove cursos e produz materiais técnicos voltados à capacitação de profissionais de saúde, além de integrar grupos do Ministério da Saúde que mantêm protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas sobre transmissão vertical de sífilis, HIV e hepatites virais, disponíveis online para consulta pública.

Quem mais está se infectando no Brasil

Atualmente, os grupos com maior incidência de sífilis e HIV no país são jovens entre 15 e 25 anos e a população da terceira idade.

Entre os jovens, especialistas apontam a redução do medo das ISTs e o abandono do uso de preservativos. Já entre os idosos, o aumento da vida sexual ativa, o uso de medicamentos para disfunção erétil e a ausência do risco de gravidez contribuem para a diminuição dos cuidados.

Sintomas discretos e riscos elevados

A sífilis pode se manifestar inicialmente por uma úlcera genital indolor, conhecida como cancro duro, que muitas vezes desaparece sem tratamento. Nas mulheres, a lesão costuma ficar no interior da vagina ou no colo do útero, passando despercebida.

Mesmo sem sintomas, a pessoa infectada continua transmitindo a bactéria. Na fase secundária, podem surgir manchas pelo corpo, inclusive nas palmas das mãos e plantas dos pés, além de queda de cabelo e lesões genitais.

Em gestantes com sífilis recente, o risco de transmissão para o bebê pode chegar a 100%, o que torna o diagnóstico precoce e o tratamento imediato essenciais.

Carnaval acende alerta para ISTs

Com a proximidade do Carnaval, especialistas reforçam o alerta para o aumento do risco de contágio, já que o uso de métodos de barreira costuma diminuir durante o período festivo.

“O abandono do preservativo tem impulsionado o crescimento das infecções sexualmente transmissíveis”, ressalta a médica.

Ela lembra que, embora exista a PrEP para prevenção do HIV — disponível gratuitamente no SUS —, não há método medicamentoso preventivo para a sífilis, tornando o uso do preservativo fundamental.

Tratamento é simples, mas precisa ser feito corretamente

Sem tratamento adequado, a sífilis pode evoluir e causar complicações graves. A boa notícia é que a infecção tem cura, desde que diagnosticada a tempo e tratada corretamente, incluindo o parceiro sexual.

Especialistas reforçam que informação existe, protocolos estão disponíveis, mas é fundamental aplicá-los de forma rigorosa para interromper o ciclo de transmissão e proteger mães e bebês.

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