Filme de Kleber Mendonça Filho estreia em Nova York com selo “Critic’s Pick” e fortalece campanha brasileira rumo ao Oscar 2026
O cinema brasileiro ganhou um reforço de peso na corrida rumo ao Oscar 2026. “O Agente Secreto”, novo longa de Kleber Mendonça Filho, estreou nesta quarta-feira (26) nos cinemas de Nova York cercado de expectativas — e saiu consagrado pela crítica do jornal The New York Times.
Na publicação, o filme é classificado como “arrebatador” e recebe o selo “Critic’s Pick”, distinção concedida às produções consideradas essenciais pelo veículo. A crítica também destaca a interpretação de Wagner Moura, descrita como “bela” e profundamente humana, em um papel que já vem sendo apontado pela imprensa internacional como forte candidato ao Oscar de Melhor Ator.
Ambientado em 1977, em plena ditadura militar brasileira, “O Agente Secreto” acompanha Marcelo, especialista em tecnologia que retorna a Recife tentando se reconectar com o filho e se afastar da perseguição política. A cidade, banhada pelo sol e tomada pelo clima de carnaval, surge como cenário de festa e, ao mesmo tempo, de ameaça constante.
Na avaliação sobre o filme, a crítica ressalta que Kleber Mendonça Filho abraça uma sensibilidade irreverente e encontra humor em meio ao terror. Em vez de se concentrar apenas nos corredores do poder, a narrativa desce para o nível da rua, onde as pessoas vivem o aqui e agora: alguns celebram o carnaval, dançam descalços na poeira, enquanto outros tombam pela violência, com o sangue literalmente se misturando à terra.
O personagem Marcelo, vivido por Wagner Moura, é apresentado como um homem marcado pelo passado e pelas contradições do presente. Há um ar de desespero e melancolia no protagonista, especialmente nas sequências em que ele dirige rumo a Recife logo no início da história. Longe da figura clássica do herói de ação, ele se aproxima de alguém comum, tentando proteger quem ama e sobreviver em um país sob vigilância e repressão.
A crítica também destaca que Recife volta a ser cenário fundamental na obra de Kleber Mendonça Filho. A cidade já havia ganhado espaço central em filmes anteriores do diretor, como “O Som ao Redor”, “Aquarius”, “Bacurau” e “Retratos Fantasmas”, sempre retratada como um território de memórias, conflitos, encontros e tensões sociais.
Kleber é descrito como um “inconformista” que ignora convenções rígidas de gênero, mistura o elevado e o popular, combina o refinado com o bruto e transforma essa mistura em linguagem própria. Em “O Agente Secreto”, a brutalidade da ditadura divide espaço com elementos muito brasileiros: amor, música, sol quente, cerveja gelada e carnaval.
A estreia em Nova York reforça a campanha do longa rumo ao Oscar 2026. “O Agente Secreto” foi escolhido para representar o Brasil na disputa por uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional e já circula em festivais e sessões especiais nos Estados Unidos, ampliando o alcance junto à crítica e ao público. O desempenho de Wagner Moura, somado ao prestígio de Kleber Mendonça Filho, coloca o Brasil em uma posição de destaque na temporada de premiações.
A boa recepção internacional também simboliza um momento importante para o cinema brasileiro. Em um cenário global competitivo, um filme que trata da ditadura militar, da violência de Estado e da resistência cotidiana, sem abrir mão do humor e da cultura popular, mostra que histórias profundamente enraizadas no Brasil podem dialogar com plateias do mundo inteiro.
Com o selo de aprovação de uma das críticas mais influentes dos Estados Unidos e o encanto em torno da atuação de Wagner Moura, “O Agente Secreto” já garantiu um lugar especial na trajetória recente do audiovisual brasileiro — independentemente do resultado final na cerimônia do Oscar.
