Estudos apontam que o corpo feminino demanda mais tempo de sono para manter o equilíbrio físico e emocional — e que fatores sociais agravam a privação.
Dormir bem é uma necessidade básica de todos os seres humanos. Mas, segundo a ciência, o corpo das mulheres parece precisar de um pouco mais de tempo para se regenerar. Pesquisas indicam que elas dormem, em média, de 11 a 20 minutos a mais por noite do que os homens — e há boas razões biológicas e sociais para isso.
Durante o ciclo menstrual, por exemplo, os hormônios femininos influenciam diretamente a qualidade do sono. Na fase folicular, o aumento do estrogênio melhora o descanso e aprofunda o sono REM, aquele ligado à memória e às emoções. Já na fase lútea, quando os níveis de progesterona sobem, o sono tende a se fragmentar, com mais despertares e até 27% menos sono profundo.
“Quando não durmo o suficiente, é como um casamento tóxico entre estar elétrica e exausta”, contou a coach Shantani Moore, de Los Angeles, à DW. “Tudo se acumula — a mente confusa, as decisões ruins, a irritação com o parceiro.”
Além da biologia, o peso das responsabilidades cotidianas também explica por que tantas mulheres sentem que dormem “com culpa”. Elas ainda são as que mais acumulam tarefas domésticas, cuidados familiares e longas jornadas de trabalho.
A paquistanesa Sabrina, por exemplo, relatou que precisa de 12 horas de sono para se sentir realmente descansada — mas raramente consegue. “Quando estou exausta demais para cozinhar ou limpar, começo a me culpar. Me sinto preguiçosa, mesmo que tenha trabalhado o dia todo.”
De acordo com o especialista em sono Emerson Wickwire, da Universidade de Maryland (EUA), essa sobrecarga é sistêmica: “As mulheres trabalham mais fora do horário padrão e sofrem mais com distúrbios do sono ligados à jornada em turnos.”
Pesquisas laboratoriais confirmam que, mesmo em condições controladas, as mulheres dormem mais profundamente do que os homens. Segundo o psicólogo Julio Fernandez-Mendoza, da Penn State Health, isso pode ser um reflexo da própria biologia feminina: “O corpo que tem a capacidade de gerar vida precisa de um sistema de proteção e recuperação mais eficiente. O sono faz parte disso.”
Apesar dessa resiliência natural, as mulheres ainda relatam insônia com o dobro de frequência em relação aos homens — um quadro que começa já na puberdade e se estende pela vida adulta.
Dormir até mais tarde nos fins de semana pode aliviar a sonolência, mas não compensa totalmente a privação acumulada. O ideal, segundo os especialistas, é respeitar o relógio biológico e entender o sono como um investimento na saúde, e não um luxo.


