Estado aposta no espeleoturismo como novo motor de desenvolvimento sustentável e preservação ambiental
Conhecido por suas paisagens de Cerrado, cachoeiras e parques naturais, Goiás agora começa a ganhar destaque por um atrativo que, até pouco tempo, permanecia praticamente invisível: o seu vasto mundo subterrâneo.
De acordo com um levantamento recente do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (ICMBio/Cecav), o estado abriga mais de 1.100 cavernas catalogadas, o que representa cerca de 4% de todas as cavidades naturais conhecidas no Brasil. Esse número coloca Goiás entre os cinco estados com maior concentração de cavernas do país, atrás apenas de Minas Gerais, Pará, Bahia e Rio Grande do Norte.

Entre as formações mais conhecidas está o Parque Estadual da Terra Ronca, em São Domingos, considerado um dos maiores complexos de cavernas da América Latina. Com mais de 250 cavidades identificadas, o parque ocupa uma área de 57 mil hectares, abrigando rios subterrâneos, salões imensos e formações geológicas que se desenvolveram ao longo de milhões de anos. O cenário é de tirar o fôlego: estalactites, estalagmites e paredões monumentais que revelam o poder do tempo sobre a rocha e compõem uma das experiências naturais mais impressionantes do Brasil.

Um novo motor de desenvolvimento e ciência
O fascínio pelas cavernas vai muito além do turismo de aventura. Especialistas apontam que o turismo subterrâneo, ou espeleoturismo, representa uma nova fronteira para o desenvolvimento econômico, científico e ambiental de Goiás.
Segundo a espeleóloga Luciana Alt, responsável pelo Censo Brasileiro de Cavernas Turísticas 2025, “as cavernas turísticas são janelas enfeitadas e acessíveis para um vasto e pouco conhecido ambiente subterrâneo. Elas geram oportunidades de lazer, educação e renda para as comunidades locais”.

Essas formações naturais também abrem espaço para pesquisas sobre biologia subterrânea, história geológica e conservação dos ecossistemas escondidos sob o solo goiano. Muitas cavernas abrigam espécies únicas de fauna e flora adaptadas à ausência de luz — verdadeiros laboratórios vivos da natureza.
Desafio: explorar sem destruir
O avanço dessa nova rota turística, no entanto, exige cuidado e planejamento. A maioria das cavernas ainda não possui infraestrutura adequada para visitação segura, e o impacto de atividades descontroladas pode comprometer ecossistemas frágeis e formações milenares.

Aspectos como o controle da umidade, o limite diário de visitantes e a preservação da fauna subterrânea precisam ser rigidamente monitorados. Assim, o desafio de Goiás é equilibrar o desejo de explorar com a responsabilidade de conservar.
Um destino completo: das profundezas às cachoeiras
A integração entre o espeleoturismo e o ecoturismo tradicional é vista como uma das grandes apostas do setor. O visitante pode explorar as profundezas das cavernas e, ao mesmo tempo, conhecer as belezas na superfície — trilhas, rios e cachoeiras que cercam essas regiões.

Municípios como São Domingos, Posse e Guarani de Goiás já começam a enxergar nas cavernas uma oportunidade de desenvolvimento sustentável, gerando emprego, renda e valorizando os saberes locais.
Com mais de mil cavernas catalogadas e muitas outras ainda por descobrir, Goiás dá seus primeiros passos para se tornar referência nacional em turismo subterrâneo — uma modalidade que une aventura, ciência e contemplação. As paisagens escondidas sob o solo goiano agora começam a revelar sua grandiosidade, reforçando o papel do estado como um dos destinos naturais mais ricos e diversos do Brasil.


