Embarcação da era de Trajano foi encontrada surpreendentemente preservada e pode revelar novos segredos sobre o comércio marítimo no Mediterrâneo antigo.
Imagine caminhar por uma praia ensolarada na Croácia e, sem saber, estar sobre um pedaço intacto da Roma Antiga. Foi exatamente o que aconteceu na costa da Dalmácia, onde arqueólogos descobriram um navio romano com quase dois mil anos, em um estado de conservação impressionante — tão bem preservado que parece ter sido construído há poucos meses.
O achado foi feito no vilarejo de Sukošan, próximo à cidade de Zadar, um dos destinos turísticos mais visitados do país. O naufrágio veio à tona após cinco anos de escavações no antigo porto romano de Barbir, onde, em 2020, mergulhadores haviam encontrado uma prancha de madeira com um prego metálico — o primeiro indício do que viria a ser uma das descobertas subaquáticas mais notáveis da região.

Agora, os pesquisadores confirmaram que a embarcação mede 13 metros de comprimento por 3,5 metros de largura, datada entre o século I e II d.C., período que corresponde ao reinado do imperador Trajano, um dos mais prósperos da história romana.
De acordo com os arqueólogos, o navio provavelmente foi surpreendido por uma tempestade e lançado contra a costa, onde acabou sendo coberto pela areia — o que paradoxalmente o protegeu por dois milênios.
A escavação foi conduzida pelo Centro Internacional de Arqueologia Subaquática de Zadar, em parceria com especialistas da Universidade Nicolau Copérnico (Polônia), do Instituto Max Planck (Alemanha), da Universidade de Aix-Marselha (França) e das empresas Ipso Facto e NavArchos, ambas especializadas em arqueologia marinha.
Com o uso de fotogrametria e modelagem 3D, a equipe conseguiu registrar cada detalhe da estrutura. Segundo o portal Newsweek, o estado de preservação é descrito como “extraordinário” — a quilha, as pranchas e até partes superiores do casco permanecem intactas. Algumas tábuas, relatam os arqueólogos, “parecem recém-esculpidas”.
Entre os artefatos encontrados estão fragmentos de cerâmica, vidro, moedas e dois jarros completos, além de centenas de caroços de azeitona, indicando que o navio fazia parte das rotas comerciais romanas que cruzavam o Mediterrâneo transportando produtos agrícolas e manufaturados.
Em vez de ser removida do local, a embarcação será preservada in situ — protegida por uma membrana especial e novamente coberta por areia, o mesmo ambiente que a manteve intacta por tanto tempo. Uma reconstrução em escala reduzida será exibida ao público, permitindo que a antiga embarcação “renasça” em terra firme e conte, de perto, a história de uma Roma que ainda dorme sob as ondas.