Relatório internacional mostra como a floresta se tornou palco de disputas ambientais, econômicas e armadas, envolvendo Brasil, Colômbia, Venezuela, Equador e Peru.
Amazônia: pulmão do mundo, território de culturas milenares e biodiversidade sem igual. Mas, além de suas riquezas naturais, a floresta também é cenário de graves vulnerabilidades. Um novo estudo, intitulado Amazônia em Disputa, lançado nesta semana em Bogotá, Colômbia, mapeia os principais conflitos que atingem a região, especialmente em áreas de fronteira.
O relatório é fruto de uma parceria entre o Instituto Igarapé, a União Europeia e a Fundação para a Conservação e o Desenvolvimento Sustentável (FCDS). O foco recai sobre a porção noroeste da Amazônia, onde se encontram os limites territoriais de Brasil, Colômbia, Venezuela, Equador e Peru.
Segundo o levantamento, existem quatro grandes tipos de disputas:
- Ambientais – degradação, queimadas, desmatamento e exploração predatória;
- Criminais – narcotráfico, mineração ilegal e atuação de grupos armados;
- De capital – transformação da floresta em mercadoria, com cadeias formais e informais ligadas a ouro, madeira, gado e drogas;
- Institucionais – ausência ou fragilidade do Estado, que deixa espaço para redes criminosas.
Os pesquisadores apontam a presença de ao menos 16 grandes grupos armados ilegais, incluindo organizações brasileiras como Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC), além de forças internacionais como o Exército de Libertação Nacional (ELN) e dissidências das FARC.
A violência, em muitos casos, supera as médias nacionais. Regiões como Putumayo (Colômbia), Madre de Dios (Peru) e Sucumbíos (Equador) concentram altos índices de homicídios, associados ao narcotráfico e à mineração ilegal.
Entre os mais afetados estão comunidades indígenas e ribeirinhas, que sofrem deslocamentos forçados, perda de territórios e destruição dos modos de vida. A Amazônia também é hoje considerada o lugar mais perigoso do mundo para defensores ambientais: mais da metade dos assassinatos registrados em 2023 ocorreram na região.
As áreas de fronteira analisadas incluem Guainía–Orinoco (Colômbia–Venezuela), Mitú–Taraira (Colômbia–Brasil), Trapézio Amazônico (Colômbia–Brasil–Peru), Putumayo (Colômbia–Equador–Peru) e Yavarí (Brasil–Peru). Em todas, o denominador comum é a pressão sobre a floresta somada à ausência de governança efetiva.
Para os pesquisadores, o momento exige respostas conjuntas, dentro e fora dos países amazônicos. “O dano fica na Amazônia, mas as redes que operam vão muito além de suas fronteiras”, afirma Melina Risso, diretora de pesquisa do Instituto Igarapé.
A discussão deve ganhar força na 5ª Cúpula de Presidentes dos Estados Partes do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), marcada para esta sexta-feira (22) em Bogotá. Entre os temas estão a cooperação em segurança pública, alternativas econômicas sustentáveis e o financiamento de serviços ecossistêmicos, que também deverá pautar a COP30.