Tecnologia converte calor desperdiçado em eletricidade limpa, reduz custos, emissões e coloca indústria brasileira na vanguarda da eficiência energética
O reaproveitamento do calor industrial deixou de ser apenas uma proposta técnica e passou a operar, na prática, como solução energética no Brasil. Em Quixeré, no interior do Ceará, uma fábrica da Cimento Apodi passou a gerar parte da própria eletricidade ao converter o calor excedente do processo produtivo em energia limpa. A iniciativa une inovação tecnológica, redução de impactos ambientais e economia significativa, em um setor historicamente associado a altos níveis de consumo energético.
O projeto surge em um cenário de pressão crescente por sustentabilidade, aumento no custo da energia elétrica e necessidade de modernização da indústria pesada. Ao transformar um resíduo térmico em fonte de eletricidade, a fábrica mostra que eficiência produtiva e responsabilidade ambiental podem caminhar juntas.
Como o reaproveitamento do calor industrial gera energia limpa
Na unidade de Quixeré, o calor liberado pelos fornos de clínquer — etapa central da produção de cimento — deixou de ser descartado na atmosfera. Por meio do sistema Waste Heat Recovery (WHR), os gases quentes passam por trocadores de calor que alimentam uma turbina a vapor, responsável pela geração de eletricidade dentro da própria planta industrial.
O sistema é capaz de produzir cerca de 4,2 megawatts médios, volume suficiente para suprir 21,37% de toda a energia consumida pela fábrica. Trata-se de energia limpa, sem queima adicional de combustíveis, aproveitando exclusivamente o calor residual de um processo já existente.
Além disso, o WHR opera de forma integrada às fases de pré-aquecimento e resfriamento do processo industrial, sem interferir no ritmo da produção. O resultado é um ganho duplo: maior eficiência operacional e redução significativa das emissões associadas à produção de cimento.
Economia, autonomia e competitividade
O impacto financeiro reforça o valor estratégico da tecnologia. Somente em 2024, a energia gerada pelo reaproveitamento do calor industrial proporcionou uma economia estimada em R$ 7 milhões, segundo dados divulgados pela empresa.
Para Sergio Maurício, CEO da Cimento Apodi, o sistema representa uma mudança de paradigma:
o que antes era um passivo ambiental passa a se tornar um ativo estratégico, reduzindo custos operacionais, aumentando a autonomia energética e fortalecendo a competitividade da indústria no longo prazo.
A planta de Quixeré tornou-se, segundo a companhia, a primeira das Américas a operar esse tipo de sistema em uma cimenteira, colocando o Brasil em posição de destaque na adoção de tecnologias de eficiência energética no setor industrial.
Um caminho para o futuro da indústria
A experiência no Ceará aponta para um horizonte promissor. À medida que indústrias brasileiras enfrentam desafios relacionados ao custo da energia, às metas climáticas e à pressão por práticas mais sustentáveis, o reaproveitamento do calor industrial tende a ganhar escala em outros segmentos produtivos.
Mais do que uma solução isolada, o projeto da Cimento Apodi sinaliza uma mudança estrutural: o futuro da indústria passa pela inteligência energética, pela inovação aplicada e pela capacidade de transformar desperdício em oportunidade.


