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Misoginia: quando o desrespeito às mulheres deixa de ser “opinião” e vira violência

Ataques, piadas e comentários que inferiorizam as mulheres ainda são naturalizados no Brasil. Entender o que é misoginia é o primeiro passo para romper com uma cultura que abre brecha para abusos, agressões e desigualdade.

O que é misoginia e por que ela não é “mimimi”

Misoginia é o termo usado para definir o ódio, desprezo ou rejeição às mulheres. Ela se manifesta em atitudes, discursos e comportamentos que tratam as mulheres como inferiores, incapazes ou como se existissem apenas para servir, agradar ou obedecer. Muitas vezes, essa postura aparece disfarçada de “opinião”, “brincadeira” ou “piada”, mas seus efeitos são bem reais.

Frases como “mulher no volante, perigo constante”, “mulher fala demais”, “mulher não serve para liderar” ou “homem ajuda em casa” parecem inofensivas, mas reforçam a ideia de que o lugar da mulher é sempre limitado: em casa, calada, em posição de obediência ou sem poder de decisão. Aos poucos, esse tipo de fala normaliza a desigualdade e abre espaço para formas mais graves de violência.

Misoginia no dia a dia: quando começa o desrespeito

A misoginia não começa apenas com ameaças, agressões ou crimes. Ela nasce em situações muito comuns, como:

  • piadas sobre o corpo e a aparência das mulheres;
  • comentários sobre a roupa que “provoca” ou “chama atenção”;
  • desconfiança sobre a capacidade profissional por ser mulher;
  • interrupções constantes quando uma mulher fala em reuniões, aulas ou rodas de conversa;
  • pressão para que mulheres sejam sempre “boas”, “calmas”, “comportadas” e “agradecidas”.

Quando esse padrão se repete, a mensagem é clara: a voz das mulheres vale menos. E, quando uma sociedade passa a acreditar nisso, torna-se mais fácil justificar abusos, silenciar denúncias e minimizar relatos de violência.

O ambiente digital como palco de ataques

Nas redes sociais, a misoginia ganha megafone. Comentários ofensivos, ataques à aparência, à orientação sexual, à cor da pele, ao corpo e à idade são direcionados principalmente às mulheres que se posicionam, seja na política, na cultura, no esporte, nas artes ou simplesmente compartilhando a própria rotina.

Em muitos casos, o objetivo é o mesmo: intimidar, calar e fazer a mulher desistir de ocupar aquele espaço. O ataque não é apenas à opinião dela, mas à condição de ser mulher.

Além disso, conteúdos que reforçam estereótipos – dizendo que mulher “tem que aceitar”, “tem que perdoar”, “tem que aguentar”, “tem que ser submissa” – alimentam uma lógica em que o homem aparece como autoridade e a mulher como alguém que sempre deve satisfação.

Da “piada” à violência: a linha que muita gente não enxerga

A cultura que normaliza piadas machistas, humilhações e controles sobre a vida das mulheres é a mesma que, em casos extremos, justifica agressões físicas, abusos emocionais e até feminicídios.

Não é exagero fazer essa ligação. Quando uma sociedade considera normal:

  • dizer que “se apanha, é porque fez algo errado”;
  • culpar a mulher pela roupa que usa;
  • responsabilizar a vítima pela traição, pela separação ou pela violência;

ela está, na prática, tirando o foco do agressor e colocando sobre a mulher. Isso também é uma forma de misoginia: transformar a vítima em culpada e o agressor em alguém “sem controle”, “nervoso” ou “dominado pela emoção”.

Misoginia também é estrutural

A misoginia não acontece apenas em situações individuais. Ela é parte de uma estrutura que se reflete em:

  • diferença salarial entre homens e mulheres na mesma função;
  • baixa representatividade feminina em cargos de liderança e na política;
  • divisão desigual do trabalho doméstico e do cuidado com filhos e familiares;
  • descrédito quando mulheres denunciam abusos em ambientes profissionais, acadêmicos ou familiares.

Quando as instituições – empresas, escolas, órgãos públicos, partidos políticos – não levam a sério essas desigualdades, acabam reforçando a mensagem de que a mulher vale menos. Combater a misoginia, portanto, não é só mudar a postura individual: é cobrar políticas e práticas que tornem ambientes mais seguros e respeitosos.

O que pode ser feito para romper esse ciclo

Enfrentar a misoginia é um desafio coletivo. Alguns passos possíveis incluem:

  • Rever piadas e expressões que reforçam estereótipos sobre mulheres;
  • Levar a sério relatos de abuso, assédio ou humilhação, sem colocar a culpa na vítima;
  • Questionar conteúdos nas redes sociais que atacam mulheres, em vez de compartilhar ou “passar pano”;
  • Promover debates em escolas, empresas e comunidades, abordando respeito, igualdade e direitos;
  • Incentivar a presença de mulheres em espaços de decisão, apoiando e protegendo quem ocupa cargos de liderança.

Mais do que um conceito, a misoginia é uma realidade que afeta a autoestima, a saúde emocional, a liberdade e até a vida de milhões de mulheres. Reconhecer o problema é o primeiro passo para que mais meninas e mulheres possam crescer e viver em ambientes onde serem respeitadas não seja exceção, mas regra.

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