Com cerca de 57 mil hectares, o Parque Estadual de Terra Ronca abriga um dos maiores complexos espeleológicos da América do Sul, com enorme valor ambiental, cultural e turístico
No extremo nordeste do estado de Goiás, entre os municípios de São Domingos e Guarani de Goiás, encontra-se um dos mais extraordinários santuários naturais do Brasil: o Parque Estadual de Terra Ronca (PETeR). Com aproximadamente 57.000 hectares, essa unidade de conservação conta com uma das maiores concentrações de cavernas, grutas e formações subterrâneas do país, além de paisagens de superfície de rara beleza e biodiversidade ameaçada.

História e regularização fundiária
O PETeR foi criado pela Lei nº 10.879, de 7 de julho de 1989. Ele está legalmente delimitado desde 1996 por decreto, com renovação de sua delimitação pelo decreto de 2013. Um dos marcos recentes é a transferência da Caverna Terra Ronca I para o patrimônio do Estado de Goiás, formalizando sua posse, assim como de outras fazendas, o que elevou para cerca de 65% da área do parque com propriedade regularizada, com plano de ampliar para 74% com aquisição de novas glebas.
Espeleologia, geologia e paisagens
- O parque guarda mais de 200 cavernas catalogadas, segundo dados oficiais, embora diferentes fontes variem esse número dependendo do critério usado.
- Entre essas cavernas, destacam-se Terra Ronca I e II (Lapa da Terra Ronca I & II), Angélica (Lapa de Angélica), São Mateus, São Bernardo, São Vicente, entre outras.
- A Caverna Terra Ronca I, por exemplo, possui uma entrada monumental com cerca de 96 metros de altura por 120 metros de largura, que impressiona visitantes e estudiosos.
- A formação geológica da região é calcária/dolomítica e guarda nos substratos vestígios de períodos em que a área estava coberta por oceano, há centenas de milhões de anos. O trabalho erosivo das águas (rios de superfície e subterrâneos) modelou salões enormes, galerias, dolinas, cavernas inundadas em parte, entre outras feições.
Biodiversidade e ecossistemas

A diversidade do PETeR vai além do subterrâneo:
- Na superfície, vegetação típica do Cerrado, matas ciliares, veredas, campos rupestres e afloramentos calcários, com espécies como ipês, barbatimão, buriti, etc.
- Fauna diversificada: morcegos cavernícolas, insetos troglóbios, peixes de cavernas (alguns cegos), além de mamíferos típicos do Cerrado como lobo-guará, tamanduá-bandeira, onça-parda, entre outros.
Turismo, uso público e atrativos
- O turismo de aventura / ecoturismo é uma das principais atividades. As cavernas abertas à visitação incluem Terra Ronca I e II, Angélica, São Bernardo, São Mateus.
- As visitas exigem guia credenciado, equipamentos de segurança (capacete, lanterna, etc.), uso de calçado fechado, e seguem regras de uso público definidas no plano de manejo.
- O horário permitido para visitação normalmente vai de manhã até o fim da tarde (08h às 17h ou 08h às 18h no horário de verão) para garantir segurança e observância das normas.
- Trilha de acesso, travessias de rios internos, salões gigantes, praias internas de cavernas e cachoeiras escondidas compõem o roteiro de aventura.
Importância científica, cultural e desafios
- O parque é objeto de grande interesse de pesquisadores de espeleologia, geologia, biologia, ecologia subterrânea e de surface biodiversity.
- Existe também valor cultural: uma tradicional cerimônia religiosa — a Festa / Missa do Bom Jesus da Lapa — ocorre anualmente na entrada da Caverna Terra Ronca I, reunindo fiéis e turistas. Essa prática revela a interseção entre natureza, espiritualidade e cultura local.
- Desafios: infraestrutura turística ainda rústica, acesso complicados (trechos de estrada de terra, pouco sinal de celular, necessidade de veículo adequado), regularização fundiária ainda em processo, proteções legais e fiscalização ambiental.