Posição de PSD, Republicanos, União Brasil e PP pode esvaziar palanques do presidente na região onde tradicionalmente lidera
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta um dos seus maiores desafios políticos às vésperas da corrida eleitoral de 2026: segurar o apoio dos partidos do Centrão no Nordeste, região que historicamente garante sua maior base de votos. Disputas locais, alianças instáveis e indefinições sobre candidaturas nacionais ameaçam a articulação petista e colocam em xeque a força de Lula no território considerado estratégico para sua reeleição.
Federação União-PP tensiona palanques
Um dos pontos mais delicados é a federação entre União Brasil e PP. A união das legendas já levou à saída de Celso Sabino do Ministério do Turismo e pressiona pela demissão de André Fufuca, ministro do Esporte. A movimentação fragiliza alianças em estados como Ceará, Bahia e Paraíba, onde os partidos ainda compõem a base do governo.
No Ceará, o racha é ainda mais evidente: enquanto parte do União Brasil mantém proximidade com o PT, outra ala busca se alinhar ao ex-governador Ciro Gomes (PDT) e até ao PL de Jair Bolsonaro, montando um bloco oposicionista. Em Pernambuco, o distanciamento do PP já vinha sendo costurado antes mesmo da federação.
O PSD e as incertezas regionais
Outro partido-chave é o PSD, comandado por Gilberto Kassab. Embora mantenha diálogo com o Planalto, os governadores Fábio Mitidieri (Sergipe) e Raquel Lyra (Pernambuco) têm rivalidades locais com aliados petistas. Mitidieri, por exemplo, já declarou que seguirá Ratinho Júnior (PSD-PR) caso o governador paranaense confirme candidatura presidencial.
Na Bahia, a tensão gira em torno da disputa por vagas no Senado. O risco de o senador Angelo Coronel (PSD-BA) perder espaço para nomes como Jaques Wagner ou Rui Costa, ambos cotados pelo PT, gera ameaça de rompimento. “A probabilidade é continuar ao lado do governador Jerônimo Rodrigues e do presidente Lula, mas existe a possibilidade de afastamento caso o Senado não mantenha vaga com o PSD”, afirmou o deputado Otto Alencar Filho (PSD-BA).
O papel do Republicanos e a sombra de Tarcísio
O Republicanos, partido do governador paulista Tarcísio de Freitas, mantém espaço no governo, mas sua posição é considerada volátil. Caso Tarcísio decida disputar a Presidência em 2026, a tendência é que o Republicanos fortaleça sua presença nos palanques do Nordeste, enfraquecendo alianças com o PT em estados como Bahia e Piauí.
Em um cenário de candidatura nacional, até mesmo o PSD poderia migrar para a oposição, reconfigurando alianças na região. A única exceção mais consistente seria em Pernambuco, onde o ministro Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos) tem influência local e sustentaria apoio a Lula.
Popularidade será decisiva
Para opositores e até para setores aliados, o desfecho dependerá do desempenho de Lula nas pesquisas ao longo de 2025. Caso mantenha índices de aprovação elevados, o presidente poderá impor nomes como Wagner e Rui ao Senado. Em um cenário mais acirrado, será forçado a negociar com o PSD e Republicanos para não perder palanques no seu maior reduto eleitoral.
A disputa por espaço no Nordeste, portanto, é o primeiro grande teste da coalizão lulista para 2026. Entre tensões nacionais e rivalidades regionais, o desafio do presidente é equilibrar concessões políticas sem abrir mão da hegemonia eleitoral que sempre garantiu sua força na região.