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quinta-feira, novembro 13, 2025
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Formigas do Mediterrâneo desafiam a biologia ao gerar filhotes de outra espécie

Descoberta inédita mostra como rainhas da espécie Messor ibericus conseguem produzir descendentes machos de formigas Messor structor, dando origem a colônias híbridas

Quando se fala em reprodução, a regra é clara: cada espécie gera indivíduos iguais a si mesma. Humanos têm filhos humanos, pássaros geram pássaros e peixes produzem peixes. Mas pesquisadores europeus acabam de revelar uma exceção intrigante: as formigas Messor ibericus, nativas da região do Mediterrâneo, foram capazes de produzir descendentes de outra espécie.

O estudo, publicado neste mês na revista científica Nature, mostra que rainhas de Messor ibericus geram machos da espécie vizinha Messor structor. Esses machos, por sua vez, fecundam os ovos da própria colônia e dão origem a operárias híbridas, responsáveis por sustentar a sociedade de formigas. O fenômeno foi batizado de xenoparidade, ou “nascimento estrangeiro”.

“É como se humanos tivessem bebês chimpanzés e depois usassem esses descendentes como fonte de esperma para gerar híbridos que fariam todo o trabalho”, comparou Jonathan Romiguier, biólogo da Universidade de Montpellier, na França, e coautor do estudo.

As colônias investigadas apresentaram uma estrutura incomum: quase todas as operárias eram híbridas de primeira geração, mesmo quando não havia colônias de M. structor próximas. Análises de DNA confirmaram que todos os machos carregavam material genético das rainhas de M. ibericus, provando que a origem era interna e não resultado de cruzamentos ocasionais.

Segundo os cientistas, essa estratégia oferece uma vantagem evolutiva: ao “produzir em casa” os machos necessários, as rainhas garantem estabilidade e independência para suas colônias. O professor Gary Umphrey, da Universidade de Guelph (Canadá), especialista em genética de formigas, considera a descoberta “fabulosa” e acredita que ela abre novas perspectivas no estudo da evolução.

Para ele, a lição é simples: “O DNA sempre encontra maneiras criativas de se perpetuar. Essa pode ser uma das mais engenhosas que já vimos”.

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