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sábado, agosto 9, 2025
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Lobos comedores de néctar são os primeiros predadores polinizadores do mundo

Espécie ameaçada da Etiópia desenvolve comportamento alimentar inédito que reforça a importância da interação entre fauna e flora nos ecossistemas

Pesquisadores do Programa de Conservação do Lobo-Etíope (EWCP) registraram pela primeira vez na natureza um comportamento surpreendente do lobo-etíope (Canis simensis): a ingestão de néctar diretamente de flores. Esse animal, considerado o canídeo selvagem mais raro do mundo, visita até 30 flores da planta Kniphofia foliosa — uma espécie avermelhada típica das terras altas da Etiópia — em uma única viagem.

Indivíduos de várias matilhas foram observados alimentando-se do néctar e, curiosamente, alguns lobos mais jovens parecem aprender essa prática socialmente, acompanhando adultos aos campos floridos. Durante essa alimentação, os focinhos dos lobos ficam cobertos de pólen, indicando que eles podem estar transportando esse pólen de flor em flor, atuando como polinizadores.

O novo estudo sobre lobos-etíopes indicou que o animal, além de caçar, também encontra fonte de energia no néctar de flores — Foto: Divulgação/Adrien Lesaffre

Essa descoberta inédita pode representar o primeiro registro conhecido de um grande predador carnívoro atuando também como agente polinizador. Até então, a polinização era atribuída principalmente a insetos, aves e pequenos mamíferos, nunca a um predador de grande porte.

O lobo-etíope é endêmico das montanhas da Etiópia, onde vivem atualmente menos de 500 indivíduos divididos em 99 matilhas isoladas. A espécie está classificada como ameaçada de extinção pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), sendo o carnívoro sob maior risco na África.

Claudio Sillero, fundador do EWCP, relata que conheceu o néctar após ver filhos de pastores lambendo as flores, o que o motivou a provar e perceber seu sabor doce. “Quando vi os lobos fazendo o mesmo, soube que eles estavam explorando uma fonte incomum de energia”, afirma.

Sandra Lai, autora principal do estudo publicado na revista Ecology em 19 de novembro, destaca que essa descoberta evidencia a complexidade das interações ecológicas mesmo em espécies ameaçadas e ressalta a necessidade de ampliar o conhecimento sobre esses animais para melhorar sua conservação.

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