A explosão das apostas esportivas online no Brasil tem impactado diretamente o rendimento acadêmico, a saúde mental e até a permanência de jovens e adultos no ensino superior.
A febre das apostas esportivas online, conhecidas popularmente como bets, está deixando um rastro silencioso de evasão universitária no Brasil. O que começou como um passatempo ou uma “grana extra” para muitos estudantes, rapidamente evoluiu para um problema preocupante: o vício em apostas tem tomado o lugar do foco nos estudos, comprometido a saúde mental e causado abandono de cursos.
De acordo com uma pesquisa da Universidade de Brasília (UnB) realizada em 2024, 32% dos estudantes universitários afirmaram já ter apostado em plataformas online. Destes, cerca de 18% relataram dificuldades para manter o foco nos estudos ou pagar mensalidades após perdas frequentes.
Com o celular na palma da mão, a sedução por ganhos fáceis é constante. As propagandas são agressivas e usam influenciadores digitais, jogadores de futebol e até ex-BBBs para atrair novos usuários. A promessa é clara: você pode ganhar muito, rápido e sem sair de casa. Mas o que muitos não percebem é o quanto estão perdendo no processo.
💬 “Perdi três semestres por falta de rendimento. Só depois percebi que estava viciado em apostar. O tempo que era pra estudar, eu passava em grupos de tips e assistindo jogos”, conta um ex-aluno de Administração da rede privada, que pediu anonimato.
O impacto vai além do financeiro. Estudantes relatam insônia, ansiedade, depressão e distanciamento social. Os casos mais graves envolvem endividamento, perda de bolsas de estudo e conflitos familiares. Em um momento crucial da formação profissional, as bets transformam a vida acadêmica em um campo de apostas arriscadas – com o futuro como prêmio em jogo.
Especialistas em saúde mental alertam para o crescimento acelerado de dependência em jogos digitais e apostas online entre pessoas de 18 a 30 anos. O vício, embora silencioso, tem sintomas semelhantes aos da compulsão química: perda de controle, negação e abandono de responsabilidades.
O Brasil ainda carece de uma regulamentação efetiva e campanhas de conscientização sobre os riscos das apostas. Enquanto isso, instituições de ensino, famílias e profissionais da saúde tentam reagir aos sinais cada vez mais evidentes de que o problema chegou às salas de aula – e não pretende sair tão cedo.