Estudos revelam impactos severos causados por mudanças climáticas, desmatamento e uso intensivo do solo; biodiversidade e segurança hídrica estão em risco
As bacias dos rios Araguaia e Tocantins, que cortam o coração do Brasil e abastecem milhões de pessoas, vêm enfrentando um colapso silencioso: perderam mais de 35% de sua vazão média nas últimas décadas, segundo estudos da Universidade de Brasília (UnB) e de entidades ambientais.
A situação é ainda mais grave na Bacia Araguaia, onde a superfície de água caiu 67% entre 1985 e 2022. A área de banhados, lagos e rios recuou de 4.059 km² para 3.246 km² — um reflexo direto da seca prolongada, da degradação ambiental e da expansão descontrolada de lavouras.
Além disso, o aumento de áreas irrigadas — que saltaram de 81 km² para mais de 1.800 km² — e a retirada da vegetação nativa nas margens dos rios estão reduzindo drasticamente a infiltração da água no solo e acelerando o assoreamento.
“O período seco está mais intenso e longo. Com menos mata, menos sombra e mais calor, os cursos d’água secam antes mesmo de chegarem ao verão”, afirma um trecho do levantamento da UnB.
Biodiversidade e abastecimento ameaçados
A queda da vazão afeta diretamente os peixes, anfíbios, aves e os ecossistemas ribeirinhos — todos dependentes de áreas alagáveis e fluxo constante. Mas os impactos vão além da natureza.
Moradores urbanos e produtores rurais também estão no centro do problema: comunidades ribeirinhas enfrentam escassez de água potável, e a agricultura familiar e a pecuária extensiva perdem capacidade produtiva. Até projetos de hidrelétricas e hidrovias estão sob ameaça por dependerem de regimes de água que já não existem mais na prática.
Em algumas regiões do Tocantins e de Goiás, testes revelaram até presença de agrotóxicos no leito do rio Araguaia, agravando a situação da qualidade da água.
O que fazer diante do colapso?
Para especialistas em meio ambiente, é urgente uma gestão integrada da bacia, com foco na recuperação de nascentes, reflorestamento de matas ciliares, proteção de áreas úmidas e freio à expansão de uso intensivo da terra em regiões frágeis.
A iniciativa “Blueprint Araguaia”, criada pela TNC Brasil, busca justamente articular ações coordenadas de preservação nos quatro estados da bacia, envolvendo governos, fazendeiros, pesquisadores e comunidades.
“Se não cuidarmos do que ainda resta, o que já foi um dos maiores sistemas hídricos da América do Sul pode se tornar insustentável para todos”, alerta o projeto.
por GT Notícias – Goiás Tocantins Notícias