Estudo desvenda como esse curioso anfíbio regenera membros, coração e até partes do cérebro — e inspira a medicina do futuro
Imagine perder um braço, ou parte do coração, ou sofrer uma lesão cerebral — e o corpo simplesmente refaz tudo, como se nada tivesse acontecido. Para nós, humanos, isso soa impossível. Mas para os axolotls, não. Esses pequenos anfíbios mexicanos estão no centro de pesquisas que podem revolucionar o entendimento sobre regeneração celular, cicatrização e até imortalidade funcional.
O que era apenas uma curiosidade biológica começa agora a se traduzir em códigos genéticos decifrados, padrões moleculares identificados e possibilidades reais de aplicação em humanos no futuro.
Um corpo que se reconstrói
Diferente dos mamíferos, o axolotl não forma cicatriz ao sofrer uma amputação. Em vez disso, ele cria uma estrutura chamada blastema, composta por células-tronco ativadas diretamente no local da lesão. Essas células “esquecem” o que eram e voltam a ser pluripotentes — ou seja, capazes de se transformar em músculos, ossos, cartilagem e nervos.
Um estudo recente identificou que o segredo está em um “GPS molecular” regulado por ácido retinoico — uma substância que orienta as células sobre o que e onde reconstruir. Genes como o Shox e enzimas como a CYP26B1 coordenam o desenho do novo membro. O resultado? Um novo braço ou perna completamente funcional.
E quando a lesão é no cérebro?
Pesquisas ainda mais surpreendentes mostram que os axolotls conseguem regenerar partes do cérebro e da medula espinhal, reativando conexões neurais com precisão impressionante. Essa capacidade, que na maioria dos animais levaria à morte ou invalidez, nos axolotls é apenas mais uma página virada.
Até o coração, se parcialmente removido, pode ser regenerado — sem perda de função.
O que isso diz sobre nós?
O ser humano compartilha diversos genes com os axolotls, mas os nossos estão “silenciados” ou desativados por mecanismos evolutivos. O que os cientistas tentam descobrir agora é como reativar essas capacidades sem efeitos colaterais, abrindo caminho para uma medicina regenerativa verdadeiramente transformadora.
Reflexão: a natureza guarda respostas
Há algo de poético nisso tudo. Enquanto buscamos cada vez mais longe pela solução de nossas dores — próteses, chips, implantes — um animal esquecido em um lago do México já nos ensina, com o próprio corpo, como reconstruir o que foi perdido.
Talvez a verdadeira revolução científica esteja em reaprender com a natureza — com suas lógicas silenciosas, sua simplicidade orgânica e seus mistérios que ainda não cabem nos laboratórios.
por GT Notícias – Goiás Tocantins Notícias